Atletas, que ganharam patentes para os Jogos Militares, fazem jus ao soldo com medalhas em Guadalajara
TIAGO ROGERO / RIO - O Estado de S.Paulo
A conquista do primeiro lugar no quadro de medalhas dos Jogos Mundiais Militares, realizados em julho deste ano no Rio, não foi por acaso para o Brasil. Graças ao processo de militarização de atletas de ponta, como os judocas Luciano Corrêa e Leandro Guilheiro, o País conquistou 144 medalhas - 15 a mais que a China, em segundo. No Pan de Guadalajara, os 70 militares (13% da delegação brasileira, formada por 522 atletas) foram responsáveis por 40 medalhas, ou 30% das 141 conquistadas pelo Brasil.
São 58 do Exército Brasileiro - dos quais somente 14 pertencem ao quadro efetivo, os chamados militares "de carreira" - e 11 da Marinha, todos integrados por meio de editais de convocação. Os marinheiros recebem, por mês, cerca de R$ 1,4 mil, enquanto os do Exército - todos Sargentos Técnicos Temporários - ganham cerca de R$ 2,5 mil.
Os contratos são anuais, prorrogáveis por até oito anos.
Segundo a Comissão Desportiva Militar do Brasil (CDMB), os atletas não precisam trabalhar para as Forças Armadas. A única obrigação deles é, eventualmente, participar de atividades nos centros de treinamento, levando sua experiência por meio de "clínicas" de esporte.
A própria CDMB admite que o sistema foi inspirado nos países do chamado "Cortina de Ferro", como China e a antiga União Soviética.
Atualmente, são cerca de 200 na Marinha e 120 no Exército. Um custo que gira em torno de R$ 580 mil por mês, cerca de R$ 7 milhões por ano. Eles foram selecionados de acordo com o desempenho: os melhores em cada modalidade eram convocados a integrar as Forças Armadas. De acordo com a CDMB, é uma forma de apoio aos atletas, que sofrem com a falta de investimentos, principalmente nos períodos entre olimpíadas.
A CDMB, no entanto, reconhece que o objetivo principal foi a conquista dos Jogos Mundiais Militares. "Não queríamos fazer um campeonato para botar medalha no peito dos outros. Definitivamente não iríamos repetir as participações extremamente pífias nas edições anteriores", avaliou ontem um oficial ligado ao comando da CDMB.
Medalhas. No Pan, os atletas ligados às Forças Armadas ganharam 14 medalhas de ouro, 29% das 48 conquistadas pelo Brasil. Foram 12 de prata (34% das 35) e 17 de bronze (29% das 58). Os esportes com melhor desempenho foram natação (duas de ouro, cinco de prata e quatro de bronze), judô (seis de ouro, duas de prata e duas de bronze) e atletismo (duas de ouro, duas de prata e três de bronze).
Os atletas do judô foram proporcionalmente os mais vitoriosos - todos ganharam medalhas. No entanto, nomes fortes, como a 3.º sargento Natália Falavigna, bronze no taekwondo nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, voltaram para casa sem medalhas. Os atletas militarizados de hipismo e basquete masculino não subiram ao pódio. Os militares "de carreira", comos os soldado Felipe Kitadai, no judô, e Nilson André, no atletismo, conquistaram seis medalhas: três de ouro e três de bronze. As atletas que mais conquistaram medalhas - ambas 3.º sargento - foram as nadadoras Daynara de Paula e Joanna Maranhão, cada uma com duas pratas e um bronze.
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