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Ocupar vácuo que os EUA vêm deixando traz riscos


Além de testar novas estratégias, é preciso atacar a demanda pela droga
O problema é que mesmo que esses esquemas funcionem às mil maravilhas, são claramente insuficientes
FLÁVIA MARREIRO
DE SÃO PAULO
Segundo maior consumidor individual de cocaína do mundo e vizinho dos maiores produtores globais da droga, o Brasil não tem escolha a não ser ter um papel mais ativo no combate do problema.
A questão é saber se a estratégia que se desenha tem potencial para ter resultados ou é uma espécie de reprodução do modelo que os EUA utilizam desde os anos 70 com efeitos, no mínimo, controversos.
A operação da Polícia Federal no Peru é positiva porque aumenta a coordenação entre as polícias e a DEA, a agência antidrogas norte-americana, e dá flexibilidade para ações transfronteira.
Mas traz riscos também. Ocupar o vácuo que os EUA vêm deixando, com redução de financiamento e operações, pode fazer o Brasil herdar os questionamentos a respeito de soberania e subordinação entre as forças de segurança.
Sem falar da Colômbia, onde combater híbridos de narcotraficantes e guerrilheiros em operações conjuntas acarretaria consequências imensamente mais complexas.
Na Bolívia, "x" do problema porque vem de lá a maioria da cocaína consumida aqui, uma operação como a do Peru tampouco seria possível, já que a DEA não poderia atuar -foi expulsa pelo governo Evo Morales, acusada de "ingerência".
Numa prova de que há novos desenhos a serem testados, mesmo sem a DEA, Brasil e EUA estão atuando juntos no combate às drogas na Bolívia.
Os três países assinaram um acordo em janeiro que prevê uma divisão de tarefas na qual Washington paga a tecnologia de monitoramento de plantio de coca, o Brasil a aplica e compartilha os No entanto, mesmo que esses esquemas funcionem às mil maravilhas, são claramente insuficientes.
Como lembra Kathryn Ledebur, diretora da ONG Rede Andina da Informação, especializada no tema na Bolívia, é "um mito pensar que se pode controlar o fluxo de drogas" numa fronteira como a de Brasil e Bolívia. Vide o caso americano-mexicano.
Sem atacar a demanda, que só cresce no Brasil, e debater novos paradigmas do tema, é difícil apostar na redução do problema.
Fonte: Folha de S. Paulo

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