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À caça dos PMs baianos em greve

Depois da primeira prisão de um PM grevista, chegam a Salvador 40 policiais federais para ajudar a deter outros líderes do movimento. Exército vigia as ruas com blindados, mas não consegue evitar homicídios. Já são 84 desde terça, 133% a mais que a média que vinha sendo registrada

PAULA FILIZOLA


Para conter os efeitos violentos da paralisação parcial da Polícia Militar na Bahia, que já dura seis dias, o governo federal determinou reforço nas operações no estado. Quarenta homens do Comando de Operações Táticas, considerado a "tropa de elite" da Polícia Federal (PF), desembarcaram na Base Aérea de Salvador para cumprir os mandados de prisão expedidos pela Justiça da Bahia contra os grevistas. O governador Jaques Wagner passou a manhã de ontem reunido em seu gabinete com todos os comandantes das forças de segurança e seus principais auxiliares, acompanhando toda a operação deflagrada para manter a ordem no estado.
Na madrugada de domingo, a primeira das 12 prisões foi cumprida. O policial militar Alvin dos Santos Silva, da Companhia de Policiamento de Proteção Ambiental (Coppa), foi preso pelo comandante da companhia. Ele é também dirigente da Associação dos Policiais, Bombeiros e dos seus Familiares do Estado Bahia (Aspra), entidade responsável pela greve. Ele será encaminhado, segundo o governo estadual, à sede da Polícia do Exército, em Salvador. As informações, não confirmadas oficialmente, são de que, além de responder pelos crimes, o policial vai passar por um processo administrativo na própria corporação. Os demais presos deverão ser levados para presídios federais em uma aeronave da PF, que aguarda no local.
Essas medidas, porém, não são suficientes na opinião do deputado baiano Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM). Segundo ele, que esteve em Salvador nos últimos dias, a população está revoltada com o governador petista Jaques Wagner. "Dá para ver que ele não se preparou. O governador está mantendo uma postura distante, o que pode retardar a solução", avaliou.
Em uma nota em seu site, o presidente do Democratas na Bahia, José Carlos Aleluia, também criticou Wagner. Segundo ele, o governador e o Partido dos Trabalhadores (PT) bancaram a greve da PM em 2001 e agora não sabem negociar o fim da paralisação atual. "Desce do helicóptero, Wagner. Vê se toma pé do caos em que está a Bahia. Infelizmente não é Wagner que está provando do próprio veneno, como diz o dito popular. É o povo da Bahia que está provando do veneno do PT", diz um trecho da manifestação do democrata baiano.
A assessoria de imprensa do governador Jaques Wagner negou ontem que ele tenha ajudado na greve de 2001. A acusação de que ele e outros políticos da base do governo teriam dado suporte financeiro à greve dos policiais militares naquele ano foi feita foi feita e repetida nos últimos dias pelo soldado Marco Prisco, presidente da Aspra.
Há seis dias, os manifestantes grevistas estão acampados na Assembleia Legislativa da Bahia para reivindicar melhores condições salariais para a categoria. Os 12 PMs procurados pela PF devem responder por três crimes: roubo qualificado, pelo fato de terem retido viaturas, incitação à violência e formação de quadrilha. O presidente da Casa, Marcelo Nilo, se pronunciou ontem no Quartel do Exército, em Salvador, e solicitou providências imediatas para desocupação do local. A greve foi considerada ilegal pelo juiz da 6ª Vara da Fazenda Pública, Ruy Eduardo Almeida Brito.
O presidente da Aspra disse esta semana que está esperando um espaço para negociação com representantes do governo. Porém, o governador, bem como o secretário de Segurança da Bahia, Maurício Barbosa, mantém a postura de não dialogar enquanto eles mantiverem a greve e os atos de vandalismo.
A senadora Lídice da Mata (PSB-BA) disse estar de acordo com as atitudes tomadas por Wagner. Segundo ela, o governador baiano não foi arbitrário, pois está embasado na Constituição brasileira. "Já vivi algumas greves da PM na Bahia e essa foi a primeira em que o governo tomou medidas  imediatas. Nunca houve tanto vandalismo, por isso acho certa a atitude de Wagner de não negociar", ponderou.
De acordo com dados da Secretaria de Segurança da Bahia, das 21h de terça até a noite de domingo foram registrados 84 homicídios, 14 por dia em  média — número 133% maior do que o que a média do ano passado. Desses homicídios, 19 foram no domingo. Nesse mesmo período foram contabilizadas 43 tentativas de homicídios e alguns saques e arrombamentos em estabelecimentos comerciais. Na madrugada de domingo, três locais foram saqueados e houve tentativa de arrombamento em um caixa eletrônico do banco Bradesco.
Correio Braziliense

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