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Megaoperação policial isola Rocinha hoje

Expulsão do tráfico e tomada da favela, rodeada pelos bairros de maior poder aquisitivo da cidade, são teste para o Rio
População de 70 mil pessoas altamente concentrada põe em xeque o sucesso da instalação de UPP
ANTONIO GOIS
DIANA BRITO
DO RIO
Um ano após a ocupação do Complexo do Alemão, a Secretaria de Segurança do Rio volta a passar por novo teste com a expulsão do tráfico da Rocinha e do Vidigal.
As favelas amanhecerão hoje isoladas por uma megaoperação do Estado. Do espaço aéreo ao tráfego de carros, tudo estará fechado para a ocupação. O trânsito nas principais vias de acesso será interrompido já de madrugada e os ônibus terão o percurso desviado.
Além de policiais do Bope e do Batalhão de Choque, a operação Choque de Paz tem apoio das polícias Civil, Federal e Federal Rodoviária. O total de agentes não foi divulgado.
LOCALIZAÇÃO
Desta vez, há poucas dúvidas sobre a capacidade do Estado de impor sua presença. A questão será o que acontecerá após a instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
Se o Alemão era estratégico por ser o "quartel-general" do tráfico pelo poder bélico, a Rocinha -e em menor grau o Vidigal e a Chácara do Céu- é um desafio pela posição geográfica privilegiada.
Ao redor das favelas estão os oito bairros de maior poder aquisitivo da cidade. Este mercado consumidor fez o tráfico faturar em média R$ 1 milhão por mês, disse à PF o chefe do tráfico Antônio Bonfim Lopes, o Nem, preso na terça. Metade seria para subornar policiais.
As UPPs, segundo o secretário José Mariano Beltrame, impedem a ação ostensiva de facções, mas não acabam com o tráfico. O Alemão é prova disso, como mostram vídeos feitos pelo Exército, ainda responsável pela ocupação lá. Na Rocinha e no Vidigal, o desafio é maior por serem enclaves na zona mais próspera do Rio.
Quanto mais dinheiro circulando, maior o risco de corrupção. E policiais de UPPs não estão imunes. Em setembro, o comando da UPP dos morros da Coroa, Fallet e Fogueteiro foi afastado sob suspeita de receber propina do tráfico.
A UPP, inspirada num modelo de policiamento comunitário, terá que provar que é uma política viável numa comunidade de grande porte.
A população da Rocinha, de quase 70 mil habitantes, é superada por só 8% dos municípios do Brasil. Essas pessoas, porém, vivem altamente concentradas, circulando por ruas estreitas e vielas impossíveis de serem monitoradas 24h.
No Alemão, comunidade de igual porte, a instalação da UPP foi adiada mais uma vez neste ano pelo Estado, que pediu ao Exército a permanência até junho de 2012. O sucesso na Rocinha, portanto, será avaliado a longo prazo.
DESCONFIANÇA
Ontem, ainda desconfiados, moradores da Rocinha tentavam seguir a rotina. Enquanto isso, PMs revistavam veículos e residentes. Poucos lojistas fecharam as portas.
"Minha vizinha estocou alimentos para se prevenir caso o comércio não abra nos próximos dias", disse o estudante Flávio Teixeira, 25.
Segundo moradores, a maior mudança após o anúncio da ocupação foi o "toque de recolher" às 21h. Bingos, festas em bares e bailes funk estão cancelados desde a sexta.
Colaborou PAULA BIANCHI
Folha

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